O melhor videoclipe do mundo de todos os tempos desta semana

O recado veio mais ou menos assim: “achei essa vibe a sua cara, olha esse vídeo”. Como o autor é um überfriend, fui ver na hora. O vídeo é um clipe, aliás o clipe abaixo. Assista, depois conversamos:

Quero deixar bem claro que, ao menos para mim, clipe e música são coisas totalmente diferentes. Não sou tão antigo ao ponto de ser anterior ao videoclipe, mas nunca fui muito fã de ouvir música pela televisão. Há, claro, exceções e mesmo eu acabei vendo muitos clipes e, com o tempo, surgiram alguns prediletos. Não colocarei o link de nenhum deles aqui, o Google e o YouTube existem para isso!

Creio que o primeiro desses favoritos foi “Dirty Boots”, do Sonic Youth, que eu vi no lendário programa “Som Pop” da TV Cultura. O não menos lendário Kid Vinil apresentava um programa especial sobre novas bandas alternativas ou algo assim.

Aquele clima de festinha juvenil com banda tocando ao vivo deve ter sido o motivo de eu ter gostado tanto do vídeo. Banda tocando ao vivo e cantando em inglês num palco minúsculo ou numa festa era algo totalmente alheio à minha realidade e possibilidade. Eu talvez tenha visto ali o cenário no qual eu queria viver. Tempos mais tarde eu iria a shows inesquecíveis em SP (e também em outras cidades) e me lembro que no começo tudo sempre me remetia a Sonic Youth.

Posso futuramente voltar ao tema e listar os favoritos – inclusive por ordem de importância, data etc. -, mas tenho certeza que “Dirty Boots” me levou ao segundo predileto, ou segundo mais predileto (se é que isso existe).

Eu já gostava da banda e da música antes de ver o clipe, de forma que “1979”, do Smashing Pumpkins, foi muito mais do que amor à primeira vista, foi um caso de paixão totalmente descontrolada. O curioso é que durante muito tempo eu não consegui assistir ao vídeo todo, completo. Sempre que eu sintonizava, o clipe já tinha iniciado!  Confesso que já há alguns anos eu acho algumas partes um tanto exageradas, mas as cenas da galera dançando na festa e pulando na piscina estarão para sempre dentro de um lugarzinho especial da minha memória afetiva. Eu inclusive costumo dizer que felicidade é correr em câmera lenta – ou um videoclipe com gente correndo em câmera lenta.

 

Se compatarmos “Dirty Boots” e “1979”, veremos várias cenas muito parecidas. Como a essa altura eu espero que você já tenha procurado os clipes, encontrado e assistido, direi apenas que o segundo foi um tipo de continuação do primeiro, uma atualização. Parêntese: se estás confuso, “Dirty Boots” é o que eu chamei de primeiro e, bem, “1979”só pode ser o segundo. Fecha. “1979” foi lançada alguns anos depois de “Dirty Boots” (“Mellon Collie” é de 1995; “Goo”, de 1990) e então era a época de um barzinho fantástico de Piracicaba chamado Blue Galeria. Quem ali pisou jamais esqueceu (saudade, Ronex!).

Noites de frio, blusas flaneladas, cabelo desarrumado, barba por fazer, cerveja Heineken. Cardigans, Teenage Fanclub e Sonic Youth (olha eles de novo aí!) na pista. Show do Fugazi/Killing Chainsaw, porres de tequila, as meninas mais lindas do mundo e com o gosto musical mais refinado.

 

Confesso que uma emoção muito forte veio junto a essas lembranças logo nas primeiras cenas de “Burn”. Flanando despreocupadamente no meio do concreto. A agonia das ruas do subúrbio ou a magia da liberdade de deslizar com o carrinho de supermercado e de abrir uma latinha de cerveja em cima do skate. Se você é jovem, a liberdade pode e tem que ser intensa. E não há limites. Não pode haver, faz parte do encanto.

 

Juro que a cena da ponte não tem lá muito a ver comigo, mas a poesia das duas garotas bebendo no alto do anúncio de estrada é comovente. É como se eu me lembrasse das vezes que fiz isso. Nas ruas de SP, na praia, na sacada do Cine Íris. Nunca num outdoor!

 

E lá vem mais uma festinha e, para conter as lágrimas, abro um espaço para comentar a música. Sim, o vídeo só existe porque uma banda chamada Eating Out compôs essa pérola neo-indie chamada “Burn”. O desespero sônico lembrando um pouquinho de “Daydream Nation” e muito de “Goo”: “Disappearer”, “Mote” e, claro, de novo, “Dirty Boots”.

 

O ciclo se fechou, as festinhas com banda alternativa tocando são hoje apenas boas recordações de um tempo distante.

 

Será?

 

Ser lembrado por um clipe de que eu tanto gosto, e que me faz lembrar de várias coisas maravilhosas, me enche de orgulho; eu ficaria muito feliz de ser 15 ou 25% do que as pessoas acham que eu seja.

 

Eu teria excluído a parte da privada e desconfio que a galera arremessar as latinhas com força no chão foi o fator decisivo para a identificação. Mas agradeço, de coração, a lembrança e a homenagem. Já tenho um novo clipe predileto.

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